Raleio: bergamota verde também é lucro
Na região do Estado que mais cultiva o citros e que tem até mesmo tipos diferentes da bergamota que produz, com nominações próprias – como a bergamota montenegrina e a Pareci –, é preciso prezar pela qualidade e o bom desenvolvimento da fruta em todas as épocas do ano. Também por isso a época que vai do meio do verão para o fim até meados do outono é de suma importância para os citricultores. É o período propício para se fazer o raleio da bergamota.
O processo é simples, trata-se de retirar algumas frutas do pé enquanto ainda estão verdes. As escolhidas normalmente são as menores, que não tiveram bom desenvolvimento até o momento, e as que pegaram algum fungo, doença, estragaram ou foram comidas por passarinhos ou insetos. A retirada dessas frutinhas serve para dar mais qualidade às novas bergamotas que estão crescendo no pé e permite que os galhos permaneçam saudáveis, pois o peso da quantidade das frutas em cada galho pode vir a quebrá-los.
Entretanto, para quem pensa que a fruta verde e pequena não tem valor, se engana. Como os agricultores não costumam aproveitar as frutas menores, a sua venda pode significar uma alternativa para aumentar a renda da família em épocas em que o citros ainda estão em desenvolvimento. Por isso, a prática do raleio, para não sobrecarregar os pomares, há alguns anos serve também para dar mais volume ao rendimento dos citricultores, que vendem essas frutinhas para empresas que fabricam, principalmente, óleos essenciais da casca da bergamota. É claro que o preço pago pela caixa da fruta verde é menor do que o oferecido pela fruta madura em época de colheita. Mas, o comércio neste período é uma boa alternativa para não se perder o que, em tese, seria descartado.
O fato é que fazer o raleio da bergamota é quase uma obrigação para quem vive da citricultura e produzir o óleo extraído dessas frutas potenciais se tornou mais uma opção de negócio para as empresas. Ou seja, o processo se torna bom para ambos os lados. Mas dá trabalho.
Família unida para fazer a colheita
Quem possui muitos hectares da fruta em sua propriedade, às vezes não dá conta de retirar todas as frutinhas do pomar e precisa contratar ajudantes para fazer o serviço. Não é o caso da família Kettermann, de Campo do Meio. O patriarca Tito, 71 anos, e os filhos Alessandro, 41, e Marcelo Kettermann, 35, fazem sozinhos o raleio dos cerca de 13 hectares de bergamota que possuem em três propriedades.
A família começou o trabalho na segunda-feira de Carnaval e, segundo Alessandro, deve continuar até o final de abril, pelo menos. O período, porém, dura conforme a quantidade de frutas crescendo nos pés. Quanto mais bergamotas, mais terão de ser arrancadas e, consequentemente, mais tempo para que isso seja feito. A família de Alessandro vende as frutas para empresas da região. Todos os dias, às 12h, o comprador passa na propriedade com o caminhão e recolhe as caixas empilhadas em no galpão. Além disso, os Kettermann também são sócios da Cooperativa dos Fruticultores da Agricultura Familiar (Coofrutaf).
Este ano, o valor pago pela caixa da bergamotinha verde é de R$ 7,50. Segundo Alessandro, cada caixa tem aproximadamente, 28 quilos da fruta. Em 2014, a família conseguiu colher cerca de quatro mil caixas no período de raleio, mas, este ano o número deve ficar abaixo disso. “Talvez umas duas mil e quinhentas. Porque no ano passado deu muita fruta no pé e este ano não têm tantas assim”, explica Alessandro.
O citricultor observa que o período do raleio é de suma importância na produção da bergamota. “Se não fi zer raleio pode quebrar os galhos e a fruta não ganha qualidade”, explica.
Cuidado com o pomar é essencial
O trabalho da família Müller, da localidade de Bananal, em Pareci Novo, é um pouco mais rápido do que o da família de Campo do Meio. O citricultor e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município, Hilário Rodrigo Müller, de 34 anos, e o pai Jacob Hilário Müller, de 64 anos, possuem um hectare e meio em sua propriedade, onde dividem seus cultivos entre mudas de citros e um pomar de frutas. No total, o raleio da família é realizado em cerca de meio hectare de bergamota, mais ou menos 200 pés, como coloca Hilário. Por isso, o trabalho que começou na semana passada deve ser terminado até a segunda quinzena de março.
A família vende suas caixas para um comprador, por R$ 7,50, que depois as revende para outras empresas ou cooperativas da região. “Tiramos mais ou menos 250 caixas de fruta daqui. São uns 25 quilos cada caixa. Isso dá cerca de cinco mil quilos de bergamotinha”, calcula o citricultor.
Para manter os pés sempre com boa quantidade e qualidade de frutas, a família Müller aposta no cuidado do pomar em todas as épocas do ano e diz que, às vezes, são tantas as frutas no pé, que é necessário tirar algumas frutas mais graúdas e não só as menores e mais manchadas. “Tem partes dos pés que temos que tirar mais, porque o pé pode não suportar tanto peso. Tem que aliviar para dar mais qualidade”, afi rma. Hilário e o pai também mantêm a poda das árvores sempre em dia, tirando assim, cerca de uma caixa e meia ou duas por pé, na época de raleio.
Outra técnica utilizada por Hilário foi recomendada pelo pai, Jacob: desbastar o pé. Ele conta que, logo após a floração, eles costumam cortar as pontas dos galhos, tirando algumas das frutas ainda em formação. Isso garante uma produção sempre regular todos os anos. “Normalmente se tu tem muita fruta no pé num ano, no outro tu tem pouca. Um ano tem fruta e outro não. Fazendo isso a gente faz com que tenha uma quantia boa todos os anos”, ensina o citricultor.
Frutos prematuros dão origem aos óleos essenciais
Empresas da região e cooperativas que utilizam o citros para a fabricação de sucos, também compram os frutos retirados no raleio para a extração de óleos essenciais presentes na sua casca. A Cooperativa dos Citricultores Ecológicos do Vale do Caí (Ecocitrus) é uma delas. Há 20 anos produzindo sucos do citros cultivado somente de maneira orgânica, a Ecocitrus começou, em 2009, a trabalhar também com a preparação de óleo essenciais. Para tanto, quando passa os citros nas três extratoras que possui, tira o suco necessário e já extrai o seu óleo.
Segundo o gerente de relações internacionais da Ecocitrus, Ernesto Kasper, a Cooperativa extrai o produto por meio de plantas processadoras, que podem produzir de cinco a seis mil toneladas de óleo por safra. A grande maioria dos óleos fabricados pela empresa é exportada para países da Europa. Sua utilidade é diversa. Eles servem, entre outros usos, para elaboração de cosméticos, perfumes, bebidas e produtos da área farmacêutica. Porém, para se chegar a um quilo de óleo são necessárias muitas frutas durante o processo. Conforme Ernesto, uma tonelada de bergamota, ou seja, algo em torno de 37 caixas de 27 quilos cada, serve para fazer apenas quatro quilos de óleo, em média.
O gerente destaca ainda que a ideia da Cooperativa é a de incentivar a cultura do raleio e da venda das bergamotas verdes colhidas pelos produtores, que devem aproveitar tudo o que a sua terra lhe disponibiliza. “O agricultor só quer fruta de mesa, fruta boa. A fruta verde tem que ser valorizada. Não pode ser só um descarte. Eles devem ganhar dinheiro com ela.”, entende. Na visão de Ernesto, a fruta ainda em formação está começando a ser vista como um produto importante dentro da cadeia produtiva e os citricultores estão atentos. “O cenário está começando a mudar”, afirma.
Com o crescimento das vendas e a procura maior das empresas pela fruta em época de raleio, o produtor é quem, literalmente, colhe os frutos: o valor pago pela caixa da mandarina verde hoje, está em torno de R$ 7,00. Em 2014 o valor ficava em R$ 5,00 a caixa.
Como é feita a produção
Para extrair o óleo essencial, o processo de fabricação na Ecocitrus funciona da seguinte maneira: as frutas saem do caminhão; passam pela balança; são colocadas na esteira; vão para o silo e passam pela lavagem. Após estarem limpas, elas passam pelo processo de ralagem (que faz furos em toda a fruta para extrair o óleo), decantação (que consiste na separação da água e do óleo) e por último passam pela centrifugação.
Fonte: Jornal Ibiá – Priscila Carvalho